Olhos Nos Olhos - Chico Buarque



(Chico Buarque, 1976)

O que ser que ser

Que andam suspirando pelas alcovas

Que andam sussurando em versos e trovas

Que andam combinando no breu das tocas

Que anda nas cabeas, anda nas bocas

Que andam acendendo velas nos becos

Que esto falando alto pelos botecos

Que gritam nos mercados, que com certeza

Est na natureza, ser que ser

O que no tem certeza, nem nunca ter

O que no tem conserto, nem nunca ter

O que no tem tamanho

O que ser que ser

Que vive nas idias desses amantes

Que cantam os poetas mais delirantes

Que juram os profetas embriagados

Que est na romaria dos mutilados

Que est na fantasia dos infelizes

Que est no dia-a-dia das meretrizes

No plano dos bandidos, dos desvalidos

Em todos os sentidos, ser que ser

O que no tem decncia, nem nunca ter

O que no tem censura, nem nunca ter

O que no faz sentido

O que ser que ser

Que todos os avisos no vo evitar

Porque todos os risos vo desafiar

Porque todos os sinos iro repicar

Porque todos os hinos iro consagrar

E todos os meninos vo desembestar

E todos os destinos iro se encontrar

E o mesmo Padre Eterno que nunca foi l

Olhando aquele inferno, vai abbenoar

O que no tem governo, nem nunca ter

O que no tem vergonha nem nunca ter

O que no tem juzo

Andr Velloso - Rio de Janeiro, Brazil

alv@domain.com.br



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